Postagens populares

16/12/2013

Cabeça controlada




“Menina, cuidado com o que vai dizer!” Sempre escutei isso, desde que me entendo por gente. Vivi o desafio de controlar as palavras, medir a intensidade do que é dito e de como é dito e encontrar o tempo exato de se pronunciar, ou melhor, o time certo. Tudo isso, sempre foi um mistério pra mim. Portanto, por muito tempo, me questionei: quais seriam as palavras certas pra um começo de namoro, o início de uma amizade, ou até mesmo, para o fim de ambos?

Sempre tive problemas com a fala. Nada de anormal com minha anatomia. Mas tudo errado com meu cérebro super controlado. Certa vez, ao atravessar o corredor da faculdade, quando me encontrei com um amigo que não via há muito tempo, o negócio (língua) insistiu em engatar. Se minha avó estivesse ali, diria que o gato comeu minha língua. O encontro foi mais ou menos assim:

- Quanto tempo, princesa! E aí, tudo beleza? - ele perguntou empolgado.

- Tudo. Como está fazendo calor! Preciso ir agora. - respondi bancando a estúpida.

Veja só, como meus diálogos mais pareciam conversa de bêbado num elevador. Talvez o garoto até pensasse que as 18 anos eu já estivesse sofrendo com a menopausa. Coitada de mim! Pior mesmo era quando minhas paixões secretas, finalmente, resolviam se declarar. Sempre depois de um “estou apaixonado por você”, eu disparava “fico feliz”. E não esboçava sentimento algum fosse ele alegria, tristeza, raiva, ou qualquer outro que seja. Minha cabeça, apenas, controlava involuntariamente o meu dizer.

Falar de forma controlada pelo medo de ser descoberto é a pior sensação que existe. Introvertidos e extrovertidos passam por isso. E não tem tanto a ver com timidez, mas com o fato de ser verdadeiro com seus sentimentos. Nestes casos, suprimi-los é uma tortura. Pois se fico feliz com um “estou apaixonado”, claro e evidente, que estou habilitada pra dizer: “eu já não consigo mais parar de pensar em você”. Se isso vai assustar o outro, ou se vai parecer cafona; não importa, pois tenho que ser, antes de tudo, fiel às minhas emoções.

Assim, durante muito tempo fui cautelosa com cada palavra proferida. E fazia de tudo para evitar que as pessoas pudessem comentar sobre mim. Em certa medida evitei confrontos, mas perdi muitas oportunidades pela ausência de coragem. Por isso, me escondi atrás do silêncio. Hoje, compreendo que a guerra dentro da minha cabeça é comum a quase todos. E ela só cessa, quando comando a guerra. E, enfim, cedo à paz.

Ontem alguém me disse: “se você não estivesse comigo, eu ainda estaria procurando por você”. O que eu respondi? Absolutamente nada. Apenas dei um longo beijo, porque vamos concordar: tem horas que as palavras, simplesmente, não servem. Pois a cabeça para de funcionar pra escutar somente o coração.

Nenhum comentário:

Postar um comentário