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14/11/2013

Uns são guiados pelo tempo, outros pelo coração

Ontem tive um sonho perturbador. Nele encontrei-me, face a face, com minha versão adulta. Lembro-me de ficar apavorada diante daquele novo eu. Que possuía olhar e semblante misteriosos. Mas, certamente, o pior momento foi escutar a minha própria voz fazer confissões assustadoras sobre o meu futuro.
Primeiro, fui instruída a não me casar, pois seria infeliz. Depois, eu não poderia seguir minha carreira de escritora, uma vez que eu falharia. Além disso, deveria deixar minha melhor amiga partir. Porque, logo, ela iria me odiar para sempre. A voz perturbadora continuou induzindo-me a optar por novas escolhas, pois elas significavam menos sofrimento e perdas.
Acordei com o suor varrendo a minha face. Foi apenas um sonho. Pensei. Mas estranho o suficiente para invadir os meus pensamentos. E, como numa cascata, várias recordações do passado vieram à minha mente. Lembrei-me dos tempos de criança, do primeiro beijo, das tão sonhadas férias escolares e de tantos momentos gloriosos, outros, nem tanto assim.
Por alguns instantes imaginei como seria retornar ao passado. Parecia tentador revisitá-lo e mudar a direção dos fatos. Talvez eu pudesse evitar muitas das angústias vividas, ou me arriscasse mais em novos projetos. Mas aonde novas escolhas me levariam? Eu nunca poderia saber. Pois se o passado é imutável, ao futuro sempre será reservado o mistério.
Portanto, restam apenas as memórias. E, pra mim, elas representam pequenas máquinas do tempo instaladas na mente. Foi, assim, que pude reviver várias lembranças. Mas, aos poucos, percebi como eu já havia esquecido boa parte daquilo que, um dia, julguei como importante em minha vida. Dos tempos de escola, restaram poucas marcas.
Porque embora eu tente agarrar-me ao passado, ele apenas escorre num compasso lento e indolor. Por isso, tenho certeza de que, vagarosamente, me esquecerei do gosto das coisas. Até o que eu imaginava que jamais esqueceria, pouco a pouco, vai se dissipando. Já não consigo me lembrar do primeiro adeus, tampouco das primeiras promessas de amor.
Isso acontece, já que as ondas da memória, à medida que o tempo passa, se tornam cada vez mais fracas. Ora invadem a mente com recordações, noutra arrastam o passado para o esquecimento. Mas é, justamente, por esta razão, que é possível aprender para se permitir arriscar, outra vez, no futuro.
O poder ou dom de mudar o passado, também, não eliminariam as incertezas. O novo namorado viria acompanhado de borboletas no estômago. As novas amizades sempre estariam carregadas de boas doses de amor e tensões. O que não adianta é confiar no próprio destino ou no acaso. Imagine lançar uma semente no solo e esperar a chuva cair. Decerto que ela não sobreviveria.
O melhor da vida não está em ser guiado pelo tempo que passou, ou que ainda resta, mas pelo coração. Pois o momento certo é onde o coração deseja estar. Por isso, estou exatamente onde deveria: do lado daqueles que amo e fazendo o realmente me deixa feliz.

O texto de hoje é especial, porque o Depois dos Quinze está completando 5 anos. Para comemorar esta importante data, a Bruna Vieira lançou um desafio à todos: criar uma crônica com o tema "mudar o passado". Os cinco primeiros vencedores receberão como prêmio seu novo livro "De Volta aos Quinze". Ficou interessado? Então corre, porque a seleção acontece no final de novembro. Boa sorte à todos!

Um comentário:

  1. Anônimo12/07/2013

    Que texto, maravilhoso! Parabéns! Você tem talento, estarei torcendo por você.

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