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04/02/2013

(Des)encontros da vida

O palhaço de maquiagem desbotada surgiu entre a multidão. Crianças se avolumavam em volta do carrossel. O vendedor de balões se esforçava para mostrar os últimos modelos, com estampas de personagens da Disney.

Enquanto isso, eu caminhava até a barraca de pipoca. Quando num sobressalto, vi o palhaço se estatelar no chão. O coitado levara um safanão, após fazer comentários inapropriados, sobre os largos quadris de uma jovem senhora que passava.

Não consegui disfarçar. Dei uma enorme gargalhada em meio aquela confusão. Foi quando nossos olhares se encontraram, naquele ambiente atípico. Paralisei. Fiquei com vergonha da invasão, do imaginário campo visual, que nos separava.

Ele arriscou um sorriso, ainda mais tímido, para cumprimentar-me. Sorrisos são códigos. Será que alguém já se deu o trabalho de estudá-los? Pois, quem sabe, finalmente, eu pudesse saber todos os sinais daquele final de tarde.

Nossos corpos travaram um diálogo incomum. Ríamos do palhaço, daquela senhora histérica e, muito mais, da vergonha em ultrapassarmos a linha invisível entre nossos olhos e nossas almas. Aproximamos-nos e trocamos poucas palavras. Pronunciamos nossos nomes e tecemos breves comentários, sobre o horror estampado na face do inexperiente artista. Sorrimos juntos. E, por várias vezes, fomos traídos pelos nossos olhares.

Eu baixava a cabeça. Ele virava em minha direção. Eu projetava meu rosto para mirá-lo. Ele disfarçava. E olhava para a linha do horizonte, com um sorriso luminoso. O que aquilo significava? Naquele instante, apenas dançamos, conforme a melodia dos nossos corpos. Sem nos preocuparmos, com o que se passava à nossa volta.

Enquanto isso, o tempo escorria por entre palavras, olhares e suspiros. Inevitavelmente, os segundos golpeavam a intensa vontade de permanecer, ali, por horas. Assim, mal nos falamos e o céu, testemunha daquele espetáculo, já anunciava o pôr do sol
.
Para selar nosso encontro.nos despedimos com um beijo sereno. E sem promessas futuras. Apenas, com a certeza, de que havia muito mais a ser lido, nas entrelinhas daquele momento incomum. Que a vida tratou de desvelar. Porque, somente ela, descortina momentos indecifráveis. Que embora ligados pela casualidade, se eternizam na memória. Ontem, me lembrei de você.

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