Postagens populares

06/01/2013

Telefone, toca!

Hoje, o sol apareceu, mais uma vez, aquecendo o coração e a alma dos viventes. Estiquei os músculos o máximo possível. Olhei para o relógio. Dei tempo ao tempo, porque estava certa de que o telefone iria tocar. Contudo, os ponteiros me mostravam o quanto ele estava atrasado. Neste momento ouvi um grande burburinho, mas não vinha da rua. Eram vozes dentro da minha cabeça, que teimavam em me contrariar. “E se ele não ligar”, sussurravam.

A voz continuou involuntariamente dentro de mim. Engraçado é que todas às vezes, que o gatilho da dúvida dispara, meus devaneios escorrem por entre os filtros da minha mente. E se alojam no coração. Não teve jeito. Travei um verdadeiro duelo com a dúvida. Pois, por mais que eu tente, quase sempre, a danada cria situações em minha mente. Capazes de me fazer atravessar o oceano da razão. Para finalmente, mergulhar no lago do desespero. Basta um pequeno atraso no relógio, para começar o tiroteio.

Apenas respiro fundo. E não me deixo, simplesmente, sufocar pelo ultimato da dúvida. Porque o destino sempre prova, que as caraminholas dentro da minha cabeça, não têm a menor chance de acontecer. Finalmente sosseguei. E com as vozes já bem longe do meu quarto, me dei conta de que estava sozinha.

Mergulhei naquele enorme silêncio, que se formava em minha cama. Imediatamente, fui tomada por um súbito pensamento: maus hábitos. Entendi. Peguei meu bloco de anotações e escrevi: maus hábitos, pra quê? Como se não bastasse o livro de mil e uma regras que mandamos imprimir nos primeiros meses de namoro.

O mau hábito de sempre dar bom dia ou boa noite da mesma maneira. Às vezes, no mesmo horário ou no mesmo tom. Em geral, acabam engessando a espontaneidade. Não tem jeito. Criamos milhões de fórmulas mágicas na expectativa de que o amor “dure para sempre”. De qualquer maneira, basta um pequeno atraso para esfacelar o nosso “de sempre de cada dia”. Assim lançamos ao vento, em fração de segundos, toda nossa tranquilidade com uma passividade extraordinária. Em geral, imbuídos de dúvidas infundadas e raiva sem precedentes, é que voltamos à estaca zero. Imersos no universo pela idealização do outro perfeito.

As ideias pareciam fluir dentro de mim. Continuei escrevendo no bloco. Peguei uma caneta de cor fluorescente, para destacar o meu pensamento favorito daquela manhã: a magia está exatamente em não ser previsível. Ninguém precisa necessariamente ser o primeiro a quebrar o silêncio das manhãs. Ou, então, fazê-lo sempre da mesma maneira.

Hoje, o telefone não tocou como esperado. Mas isso pouco importa. Vou despir o meu orgulho e treinar a minha melhor voz. Porque agora eu sei: que o sabor em surpreender alguém, tem outro gosto.