Dez e meia da manhã. Encontrei você no mesmo lugar de sempre. “Você pode me dar cinco minutos?”, soprei no seu ouvido. Já quase sem voz. Não me recordo bem, mas sei que comecei a falar em códigos. Você ficou em silêncio e me encarou. Ficou desconfortável com aquele falatório sem sentido. Sem começo, nem fim.
Confuso, você segurou minhas mãos com força. Com a intenção de garantir, que tudo iria ficar bem. Aos poucos, sua voz rouca sobrepôs à minha voz embargada. Tarde demais. Silenciei naquele momento. Imediatamente senti um nó na garganta. E uma dor profunda se instalar em meu peito. Enquanto via um caminhão de verdades, me atravessar e despedaçar o que ainda restava desse sentimento dentro de mim.
Só queria que me desvelasse nas entrelinhas. Que capturasse os meus sinais. Que percebesse neste momento, como a verdade é tudo que mais preciso. Vivemos como a maioria: correndo contra o tempo e encurtando os diálogos. Você já não me enxerga além das aparências. Não quero, também, que se prenda aos detalhes. Mas que me compreenda através deles. Porque sempre estou querendo dizer algo. Por mais estranho, que isso possa parecer.
Olhei para o relógio, já passava do meio-dia. Tempo esgotado e hora de voltar pra casa. Mais uma vez, traí minha própria consciência. E deixei de dizer, o quanto eu estava insatisfeita com nós dois. Fui embora, sem dizer nenhuma palavra. E mais reflexiva do que nunca. Só não consigo entender mesmo, por que ainda insistimos tanto em dar indiretas. Assim, sempre nos falamos na intensidade do dito pelo não dito. Somos tão contraditórios. Ou, seria melhor dizer, confusos?
Dizemos coisas pela metade, pelo simples medo de não encararmos os fatos. Ficamos sempre na defensiva. Ao invés de considerarmos, que já não somos mais os mesmos. Hoje, cansei das indiretas. Quero a verdade inteira. Agora, preciso menos que cinco minutos. E mais, do que meias palavras.
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